Vamos começar com o básico: chamar o Reino Unido de “unido” é, em si, uma ironia. O país é composto por quatro nações (Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte), cada uma com a sua própria cultura, identidade e, claro, as suas próprias queixas sobre como os outros países estão a estragar tudo. E se isso não bastasse, dentro de cada uma dessas nações há divisões regionais e cada país tem o seu próprio parlamento.
Por Malundo Kudiqueba Paca
A verdadeira união do Reino Unido talvez esteja, paradoxalmente, na sua desunião. Afinal, se há algo que os britânicos sabem fazer bem é discordar — com classe, é claro, ou às vezes, com um bom velho quebra-quebra. E no final do dia, depois de todas as divergências, você pode apostar que todos vão encontrar-se para um chá. Porque se há algo que pode unir esse reino desunido, é a certeza de que, não importa o que aconteça, sempre haverá tempo para uma boa xícara de chá.
A união em ser diferente
Talvez a grande lição aqui seja que a desunião não é, de facto, algo a ser temido. Ela pode ser, paradoxalmente, o que nos une. Somos uma espécie que prospera na diversidade de pensamentos, gostos e opiniões. E, no fim das contas, é essa confusão organizada que nos faz humanos.
Então, da próxima vez que os meus amigos se encontrarem no meio de uma discussão acalorada ou de um projecto desorganizado, lembrem-se: há uma certa união nesse caos. Uma união que existe na desunião. Porque, afinal, é na diversidade de ideias que encontramos o que realmente nos une: o facto de que, independentemente das nossas diferenças, estamos todos nesse barco furado juntos, tentando remar na mesma direcção. Mesmo que a gente não concorde sobre qual direcção é essa.
Vamos começar com a política, esse grande palco de teatro onde todos somos espectadores, e, às vezes, actores involuntários. Se há uma coisa que une diferentes grupos políticos, ideológicos, e até mesmo aqueles que não querem saber de política, é o facto de que todos acham que o outro lado está completamente errado. E não é uma discordância qualquer.
O que o mundo pode aprender com o Reino Unido: O casamento imperfeito que funciona
Se o mundo fosse uma grande família, o Reino Unido seria aquele casal que, apesar das diferenças, continua junto, firme e forte. Sabe como é, o tipo de relacionamento que já passou por algumas tempestades, algumas discussões feias sobre o que assistir na televisão ou quem deixou a toalha molhada na cama, mas que, no final das contas, continua resistir às intempéries. Vamos ser honestos: não há relacionamentos perfeitos, e o Reino Unido é a prova viva de que é possível manter um casamento coeso, mesmo que os quatro membros desse “casal” às vezes não concordem nem sobre o sabor do famoso pequeno almoço “English Breakfast”.
A arte de discordar sem partir os pratos
Primeiro, vamos falar do segredo por trás desse relacionamento duradouro. Como é que Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte conseguem ficar juntos há tanto tempo? A resposta pode ser encontrada na capacidade inata dos britânicos de discordar de forma elegante. Enquanto outros países já teriam lançados os pratos pela janela, eles preferem resolver as suas diferenças mantendo conversas civilizadas — ou, no mínimo, uma troca de farpas disfarçada por palavras polidas.
O facto é que, no Reino Unido, a discordância não é sinónimo de desunião. Eles entendem que, assim como em qualquer casamento, é normal que haja atritos. A chave está em saber que, no final do dia, mesmo com todas as diferenças, o que importa é o compromisso com o bem comum. E, claro, uma boa dose de paciência.
A fórmula do casamento duradouro: Concessões e compromissos
Outro ponto interessante é que o Reino Unido é mestre na arte da concessão. Sabe aquele momento no casamento em que um cede para evitar um potencial conflito. Pois é, o Reino Unido faz isso o tempo todo. A Escócia quer mais autonomia? Claro, vamos conversar. O País de Gales quer preservar sua língua e cultura? Sem problema, vamos apoiar. Irlanda do Norte está numa encruzilhada? Vamos achar um jeito de mantê-la no barco.
Essa capacidade de fazer concessões, de negociar e de encontrar um meio-termo é o que mantém o Reino Unido unido. Não é que eles concordem em tudo — longe disso! Mas eles entendem que, para que o casamento funcione, é preciso estar disposto a dar um passo atrás de vez em quando.
O equilíbrio entre individualidade e união
Outra lição valiosa que o mundo pode aprender com o Reino Unido é a importância de encontrar um equilíbrio entre a individualidade e a união. Cada um dos quatro países que compõem o Reino Unido tem a sua própria identidade, cultura, e até mesmo as suas pequenas excentricidades. E o mais interessante é que, em vez de tentar apagar essas diferenças, o Reino Unido celebra a diversidade interna.
É como estar num casamento onde cada parceiro tem seu espaço para ser quem é, mas ambos sabem que, quando se trata das grandes decisões, é preciso agir em conjunto. No Reino Unido, ser diferente não é um problema; é, na verdade, o que torna a união ainda mais forte. Eles sabem que um casamento sólido não significa que todos têm que ser iguais — significa que todos têm que estar dispostos a trabalhar juntos, mesmo quando as diferenças parecem grandes demais.
Não há relacionamentos perfeitos, mas há relacionamentos que funcionam
Então, o que o mundo pode aprender com o Reino Unido? Que não há relacionamentos perfeitos. Há, sim, relacionamentos que funcionam, apesar das imperfeições. O Reino Unido ensina-nos que é possível discordar, discutir, e até mesmo aborrecer-se de vez em quando, sem que isso signifique o fim da linha. O segredo está em entender que a união é mais forte do que as divergências e que, no final das contas, é o compromisso que conta.
Portanto, da próxima vez que o meu amigo estiver a pensar que o seu país, a sua cidade, ou até mesmo o seu relacionamento pessoal está cheio de conflitos, lembre-se do Reino Unido. Talvez a resposta não seja eliminar as diferenças, mas sim aprender a conviver com elas, encontrando forças na diversidade e, quem sabe, manter o casamento forte e sólido, mesmo que a perfeição esteja longe de ser alcançada. Afinal, até o casal mais duradouro sabe que, no fundo, é a capacidade de rir das próprias falhas que faz tudo valer a pena.